O trabalho é um conjunto de atividades, remuneradas ou não, que ao serem realizadas chegam a um objetivo fim. O trabalho, quando remunerado, proporciona condições de sobrevivência através da aquisição de renda e tem a função de posicionar o indivíduo num contexto social, identificando-o como alguém que realiza profissionalmente determinadas tarefas locadas em uma ou diversas áreas.
Para Moura (2018) a possibilidade de escolher uma profissão é uma opção, relativamente, recente. Por muitos séculos a ocupação de um indivíduo era determinada pela camada social ou pela família à qual ele pertencia. Até o final do século XIX, não se tinha uma diversificação de ofícios que poderiam ser exercidos, porém com a industrialização e intercâmbio socioeconômico, novas formas de trabalho foram criadas e, portanto, ocorreu a necessidade de que os indivíduos fossem orientados às escolhas que tinham a oportunidade de fazer.
Foi então em 1902 que nasceu em Munique o primeiro centro de Orientação Profissional com o objetivo de identificar pessoas com pouca capacidade para execução de determinadas tarefas, visando diminuir acidentes de trabalho. Já após a Primeira Guerra e fortemente após a Segunda Guerra Mundial os programas de Orientação Profissional se fortaleceram através do desenvolvimento de procedimentos e instrumentos psicométricos e pela modificação na maneira como se entendia e praticava o processo psicológico e pedagógico para identificação, aquisição e multiplicação de habilidades de acordo com um conjunto de padrões comportamentais.
Pode-se consolidar historicamente que de 1900 a 1950 o objetivo da Orientação Profissional foi acoplar as habilidades dos indivíduos às oportunidades profissionais através de técnicas e testes que tinham a finalidade de melhorar a produtividade profissional. De 1950 até o momento atual os fatores afetivos e sociais do comportamento do trabalhador se tornam também relevantes, bem como a estimulação para o autoconhecimento e tomada de consciência de posições e escolhas com responsabilidade.
Para Carvalho (1995) a Orientação Profissional é “o processo de fazer o indivíduo descobrir e usar suas habilidades naturais e conhecer as fontes de treinamento disponíveis, a fim de que consiga alcançar resultados que tragam o máximo proveito para si e para a sociedade.”
Por conseguinte, decidir sobre qual profissão seguir é geralmente uma demanda importante a ser realizada e a decisão envolve certa dificuldade, pois implica fazer escolhas. Especificamente no período da adolescência essa tarefa não é nada fácil devido ser um momento novo e aliado às inúmeras e intensas mudanças corporais, emocionais e sociais pelas quais os adolescentes passam. O adulto que quer mudar de área de atuação ou até de profissão também passa pelo mesmo processo de análise e decisão, porém por já ter experimentado por mais tempo o contexto profissional, sua capacidade de avaliação possivelmente será mais ampla. É importante frisar que escolher vai levar em consideração a identificação e preferência de “quem decide” (conhecimento dos próprios valores, interesses e habilidades) juntamente com outras variáveis e critérios que irão contribuir na avaliação comparativa entre as alternativas mais viáveis (conhecimento do esquema de organização das ocupações, seu respectivo ambiente de trabalho e mercado de atuação).
Neiva (1995) fala que saber ‘quem sou’ e ‘como sou’ é o que permite escolher ‘o que fazer’ e ‘como fazer’ e continua afirmando que conhecer a si através do entendimento das características pessoais é fundamental para a formação de um autoconceito real e autêntico, o qual facilitará o desenvolvimento de aspirações profissionais coerentes.
Um tema importante deve ser considerado durante a análise referente a escolha profissional e sua manutenção de forma saudável, é o conceito de propósito. Propósito é o significado dado a própria vida, identificando sua missão no mundo e a visão do impacto que suas ações têm para si e para a sociedade simultaneamente. Outro tema que é necessário ser esclarecido se refere à compreensão do que é vocação. Para a Análise do Comportamento, vocação é um conjunto de comportamentos resultantes do arranjo de variáveis filogenéticas e ontogenéticas, a que cada indivíduo está exposto desde o seu nascimento. Desta forma, a vocação de uma pessoa é construída socialmente e pela combinação de sua história genética, familiar e cultural (Moura, 2018).
Vale frisar que durante o processo de Orientação Profissional, se desenvolverão através de modelagem, classes de comportamentos que estarão relacionados à escolha e à decisão. Tais classes fazem parte de uma cadeia comportamental complexa que serão emitidas em maior ou menor frequência também durante o contexto profissional futuro.
Ao se falar de futuro, o tema que encerra este texto se refere à carreira. Segundo London e Stumph (1982, p. 4), conforme citado por Dutra (2009, p. 17):
Carreira são as sequências de posições ocupadas e de trabalhos realizados durante a vida de uma pessoa. A carreira envolve uma série de estágios e a ocorrência de transições que refletem necessidades, motivos e aspirações individuais e expectativas ou imposições da organização e da sociedade. Da perspectiva do indivíduo, engloba o entendimento e a avaliação de sua experiência profissional, enquanto, da perspectiva da organização, engloba políticas, procedimentos e decisões ligadas a espaços ocupacionais, níveis organizacionais, compensação e movimento de pessoas. Essas perspectivas são conciliadas pela carreira dento de um contexto de constante ajuste, desenvolvimento e mudança.
Na definição acima, a carreira não é considerada como uma condição de experiência de trabalho necessariamente sequencial e linear, mas que pode passar por alterações a partir de variáveis analisadas e escolhidas pelo indivíduo referente ao ambiente que ele está inserido ou por uma “mudança de rota” proposta pela empresa na relação com o profissional ou até mesmo uma mudança na estrutura e funcionamento da sociedade fruto de guerras ou desastres naturais de ordem climática, biológica, geológica ou astronômica.
No que se refere às variáveis que podem ser consideradas na análise do profissional estão: o autoconhecimento em termos psicológicos, levantamento de perfil comportamental; a relação com a família em termos afetivos e materiais; o compromisso com a sociedade, instituições e entidades; necessidades econômicas, de reconhecimento e de realização; expectativas de desenvolvimento pessoal e profissional com processo de aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades.
London e Stumph (1982), citado por Dutra (2009, p. 24) sintetiza o planejamento de carreira em três etapas:
- Autoavaliação: avaliação das qualidades, habilidades, interesses e potencial para as várias áreas de possível atuação no mercado ou nos espaços organizacionais.
- Estabelecimento de objetivos de carreira: identificação de objetivos de carreira e de um plano realista, baseado na autoavaliação e na análise do mercado ou de oportunidades em plano de sucessão organizacional.
- Implementação do plano de carreira: obtenção da capacitação necessária e acesso a posição profissional desejada seja numa condição empreendedora, autônoma/liberal ou com vínculo empregatício.
Por fim, a Orientação Profissional tem a intensão de colaborar no fortalecimento da autoestima e autoconfiança do indivíduo que ao se conhecer com mais profundidade e refinamento tem a oportunidade de identificar a profissão com que mais se adapta ou tem a chance de realinhar sua forma de ser ou estar existindo profissionalmente.
Referências:
Carvalho, M. M. M. J. (1995). Orientação profissional em grupo: teoria e técnica. Campinas: Workshopsy.
Dutra, J. S. (2009). Administração de carreiras: uma proposta para repensar a gestão de pessoas. São Paulo: Atlas.
Moura, C. B. (2018). Orientação Profissional sob o enfoque da análise do comportamento. Campinas: Alínea.
Neiva, K. M. C. (1995). Entendendo a orientação profissional. São Paulo: Paulus.